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[Por Kyko Barros]

Generoso e serelepe, o sol derrama-se sobre a cidade, faz piruetas no coreto da Praça da Matriz, flui em raios por entre as folhas das tamarineiras, desliza no escorregador do parquinho da Praça José Coutinho… Suado e sedento, refresca-se no suco de murici com bolo das Belizárias na bodega do Augusto… Alastra-se pela rua e, ali adiante, faz reverência Ao brilho carismático que emana daquela alma que repousa na cadeira e ilumina toda a vizinhança…

Os olhos pequenos reluzem no lume das fogueiras juninas, seu mês de nascimento; o sorriso se alarga ao aroma das batatas doces assadas na brasa, do milho verde cujas palhas viraram petecas nas mãos dos jovens que jogam na praça e também passeiam por lá nas festas da Igreja Matriz, paqueram nos bancos da praça e se lançam dos barcos do parque de diversões feitos náufragos ao mar daquele movimento alegre e feliz que brinca no coreto e circula pelas barracas dos partidos azul e encarnado, arremata prendas do leilão e se expande pela rua hoje denominada Dr. Branquinho rumo ao mercado dos barros da noite de Natal…

Prestes a completar 96 anos de idade, João Nascimento Nicolau, ou simplesmente seu João Nicolau, guarda em sua memória as lembranças da cidade e da rua em que mora há cerca de 60 anos. Filho de José Barros e Raimunda Nicolau, ele nasceu em Cascavel no dia 9 de junho de 1926.

Ajeita-se na cadeira, busca contabilizar o tempo dedicado à sua atividade de sacristão na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que teve início com o vigário padre Antônio de Oliveira Nepomuceno (1906-1994). A memória o trai, mas se reconcilia nos cânticos que fluem do coro e trazem as vozes harmoniosas de Júlia de Melo, Maria Eunice Coelho, Sinhá Frota, Maria Ernestina… De sua esposa e catequista, dona Modesta… Evoca hinos e convoca ao coreto a banda de música composta por Artur Viana, Zé da Carlota, Pereirinha e Abel. Pisa pelas ruas do passado conduzindo o andor de Nossa Senhora do Ó nos novenários itinerantes. Esbarra numa pilha de entulho, contempla com indignação o desmantelo destrutivo da majestosa Igreja Matriz de Cascavel…

Bom dia, seu João Nicolau! Seu João é o próprio dia bom! E eu ganhei o dia com uma prosa aconchegante e um retrato feito com carinho e admiração.

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