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Na manhã de 11 de junho de 1839, deu, à costa cearense, na praia de Arapaçu, atual Iguape, o brigue-escuna Laura II, de onde desembarcaram dez negros e um branco. Um desses pretos, João Mina, que chefiava os demais, trazia um baú com um tesouro (cheio de joias e moedas de ouro).

Havia um velho, conhecido por Antônio Cozinheiro, amigo do capitão da embarcação, que sempre ficava para trás e, por isto, ao chegarem a um grande cajueiro, de longa data denominado Cajueiro do Ministro, no Sítio Cajueiro, foi morto como suspeito de pretender denunciar os companheiros.

Enquanto alguns faziam uma fogueira e preparavam alimentos, João Mina mandou o negro Constantino matar o suspeito, o que foi feito ali mesmo com um tiro e várias facadas. João Mina, ante a estupefação do grupo, advertiu: “O Antônio Cozinheiro queria fugir para nos denunciar e por isto foi morto. Quem quiser fazer o mesmo, morrerá.” O preto foi enterrado ainda dando sinais de vida.

Cumprida essa tarefa, João Mina, acompanhado por Hilário e Constantino, afastou-se do bando e foi enterrar o baú do tesouro. Passaram o dia comendo e repousando e, à noite, dormiram tranquilamente.

No dia seguinte, porém, ao acordarem, deram pela falta do branco que os acompanhava. Dois dias depois, foram presos por uma patrulha de guardas nacionais. Haviam sido denunciados pelo desertor, o português José Antônio da Silva.

Seu depoimento narrou que, na noite de 10 de junho, quando velejava para Pernambuco, à altura do litoral do Ceará, a tripulação se amotinara.

Os escravos Hilário, Benedito, Bento, Antônio, Constantino, Luiz Cabo Verde, Luiz Aracati e João Mina, que os chefiava, mataram o capitão do barco, Francisco Ferreira da Silva, o prático aracatiense Filipe, Joaquim Gonçalves da Silva, o passageiro Feliciano Prates e mais dois marinheiros, cujos nomes são ignorados. Escapara o marinheiro Bernardo, que fingira aderir ao motim e fugira do Cajueiro do Ministro.

A Justiça tentou, por todos os meios, saber onde se encontrava o tão cobiçado baú, cheio de joias e moedas de ouro, pertencentes ao capitão (proprietário da escuna) e ao passageiro, sem resultado.

O processo, instaurado na vila de Aquiraz, terminou em Fortaleza com a condenação e morte na forca de seis escravos: João Mina, Hilário, Benedito, Bento, Constantino e outro Antônio. Luiz Cabo Verde teve sentença de galés perpétuas, na ilha de Fernando de Noronha.

Luiz Aracati recebeu 450 açoites e uma argola de ferro ao pescoço com uma haste terminada em cruz, que deveria carregar por seis anos. Outros, que nada tiveram a ver com o caso e apenas tinham aproveitado a confusão para fugir em um escaler, foram presos em Cascavel e logo postos em liberdade. Foram eles os marujos brancos Jovito e Agostinho, os pretos, Manoel e Amásio, e dois moleques, Elias e Filipe, que deveria carregar por seis anos. Outros, que nada tiveram a ver com o caso, e apenas tinham aproveitado a confusão para fugir num escaler, foram presos em Cascavel e logo postos em liberdade. Foram eles os marujos brancos Jovito e Agostinho, os pretos Manoel e Amásio, e dois moleques, Elias e Filipe.

Em 22 de outubro de 1839, no largo do Paiol da Pólvora, hoje Passeio Público de Fortaleza, às 8 da manhã, foi iniciado o enforcamento pelo carrasco cearense de codinome Pareça, terminando às 10 horas.

O primeiro a enfrentar o patíbulo foi João Mina, que se acovardou vergonhosamente. Hilário ainda gritou: “Morre como homem, negro. Não dá esse gosto aos brancos!”. Na sua vez, subiu o cadafalso de cabeça erguida e com coragem, o que aconteceu com os demais.

Que fim, porém, teria levado o tesouro do baú, enterrado nas imediações do Cajueiro do Ministro? Os negros morreram sem que a Justiça tivesse conseguido arrancar-lhes o segredo. Na época, muitos acreditavam que ele ficara perdido por lá mesmo. Todavia, na Capital, correu o rumor de que alguém se aproveitara, às ocultas, vivendo a vida inteira, fartamente, dos valores tomados às vítimas daquela tragédia.

Comentava-se que, enquanto os negros respondiam a processo, certo solicitador do foro local, frequentemente os visitava e prestava-lhes favores, amenizando-lhes os sofrimentos da prisão.

Viram-no, muitas vezes, a cochichar com João Mina, Hilário e Constantino, justamente os três que haviam enterrado o baú, provavelmente tentando tirar-lhes o segredo da sua localização com promessas de facilidades na prisão e no julgamento.

Na verdade, a crença de muita gente nesta hipótese, se devia ao fato de ter esse solicitador, natural de Cascavel, que chegara a Fortaleza, fugindo da seca, na maior pobreza e carregado de filhos, feito, após o enforcamento dos pretos, misteriosa viagem à sua terra, depois da qual deixara o emprego, nunca mais trabalhara, adquirira boa casa para residir com a família e passara até a emprestar dinheiro a juros. Sabe-se que morreu de velho, em modesta e conceituada abastança, advindo-lhe daí a alcunha de “O MILAGROSO”.

[Fonte: Cascavel 326 anos]

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