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Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior. A transição do campo para a cidade, as possibilidades – e os desafios – que a mudança aponta, e a identidade levantada como bandeira: um rapaz latino-americano. E cascavelense do Ceará!

Com entusiasmo quase místico, padre Marcilio Jerônimo inspira-se em Belchior, um de seus ídolos na música, para evocar sua origem humilde no Choró Angico, onde nasceu, comunidade localizada no distrito de Guanacés, distante cerca de 30 quilômetros da sede de Cascavel.  

Terceiro dos sete filhos do agricultor Pedro Alexandre Pereira e de Carlinda Jerônimo Pereira, ele nasceu no dia 17 de janeiro de 1977, portanto, há 46 anos. Seus pais ainda moram no mesmo canto.

Sua mãe alfabetizava algumas crianças e ele ficava observando, e assim aprendeu a ler e escrever. Autodidata, só aos 12 anos de idade foi para uma escola, e já para fazer a primeira série. Trabalhou na roça até os 17 anos.

Então ele começou a estudar por lá mesmo, até ingressar na Igreja Católica como catequista, e a partir dos 17 anos veio morar e estudar em Cascavel. “Estudei na CNEC, no Colégio Cascavelense, em seguida fui morar em Fortaleza, terminei o ensino médio e de lá entrei para o seminário, e me formei em Filosofia, em Teologia, e em Psicologia”, relata.

Recebeu a ordenação diaconal no dia 21 de dezembro de 2007, no dia seguinte, o Uso de Ordens, e no dia 2 de janeiro de 2008, provisão diaconal para a Paróquia São João Batista – Aruaru, Morada Nova, Ceará.

Foi ordenado Presbítero no dia 28 de novembro de 2008, na Catedral Metropolitana de Fortaleza, por Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques.  

No dia 3 de janeiro de 2009 foi nomeado vigário da Paróquia de São Francisco de Paula, em Aratuba, onde permaneceu até o dia 2 de janeiro de 2010, quando foi nomeado pároco de São Gonçalo do Amarante.

Foi vigário episcopal da Região Metropolitana Nossa Senhora dos Prazeres (Caucaia), no período de 19 de dezembro de 2013 a 30 de dezembro de 2015.

Em 27 de dezembro de 2016 foi novamente transferido para Aratuba, como pároco de São Francisco de Paula, onde permaneceu até 23 de dezembro de 2022, quando foi designado pároco de Nossa Senhora da Conceição de Cascavel, sua terra natal.

Sua posse canônica foi realizada no dia 30 de janeiro de 2023, pelo arcebispo Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques, em missa com a presença de 51 padres e grande participação da comunidade.

“Eu fiquei muito surpreso quando o arcebispo me falou que eu seria transferido para Cascavel. Eu não imaginaria ter vindo para cá. Mas, eu fiquei muito impressionado quando, antes de vir, as pessoas souberam e já me ligavam muito felizes. Eu senti uma recepção muito grande; nesses meus 14 anos de padre, foi a maior recepção que eu já tive na minha vida”, destacou o sacerdote.

Para ele, a mudança mais significativa para a paróquia de Cascavel é o fato de ele ser filho da terra, o que lhe exige uma responsabilidade dupla. “A primeira, como pároco da minha cidade, e a segunda é esse cuidado maior, porque quando se trata da cidade natal, a gente tem um cuidado bem mais especial. Aqui é onde estão as minhas raízes, os meus familiares, o meu sangue, o meu DNA. É uma responsabilidade bem maior”, avalia.

O desafio maior, segundo o padre Marcílio, é poder evangelizar todas as comunidades, ter uma unidade na paróquia, ter um rosto paroquial. Mostrar uma igreja que deve ser comprometida com as pessoas, com o amor, com o perdão, com a misericórdia.

Juventude rebelde

Em janeiro de 1977, período em que o Brasil estava aprisionado pela ditadura militar, o menino Marcílio Jerônimo veio à luz, na comunidade de Choró Angico. Distante dali, o cantor e compositor cearense Antônio Carlos Belchior (1946–2017) lançava o álbum “Coração Selvagem” (WEA, 1977). Dentre os destaques desse álbum está a música “Pequeno Mapa do Tempo”, que faz uma crítica ao regime militar e a sua política de opressão e procura refletir o sentimento compartilhado pelos cidadãos brasileiros que desejavam viver em uma sociedade democrática, exercendo sua liberdade e livre expressão.

Coincidência ou não, o fato é que Belchior teve influência na juventude do padre Marcílio. Percorrendo o seu pequeno mapa do tempo, ele assinala que Belchior foi marcante na sua juventude rebelde.

“Eu tive uma juventude rebelde também. Quando eu comecei a fazer Filosofia, eu me tornei uma pessoa de esquerda, vivia em tudo que era protesto. Cheguei a cantar na Praça do Ferreira, em praças lotadas de sem-terra. Eu era filiado a partido político, militante, de ir para protestos, de levar carreira da polícia”, confessa.

Um dos principais artistas a protestar e denunciar a ditadura militar brasileira, Belchior traduziu muito bem as angústias e os anseios de sua geração com várias canções que se transformaram em verdadeiros hinos da juventude e músicas de protesto.

Padre Marcílio assegura que hoje ele não tem nenhuma tendência política, nem de direita, nem de esquerda; mas considera o seu tempo de juventude rebelde valioso em sua vida. Bem como a influência de Belchior, por quem ele tem admiração especial e a inspiração na musicalidade. Fato comprovado no encerramento da Semana Literária de Cascavel, ocasião em que ele, ao violão, tocou e cantou “Tudo Outra Vez” e “Como Nossos Pais”, dois sucessos do Belchior – o segundo um clássico que reflete o contexto histórico e social da época, e fala de um conflito geracional e da angústia da juventude.

Palinha mais que especial no encerramento da Semana Literária de Cascavel, ao tom de Belchior

Além de marcar o evento com seu talento musical, o sacerdote lançou sua sexta obra, o livro “Mantenha Sempre a Esperança”, reafirmando também o seu talento literário.

Poeta e evangelizador

O jornalista e dramaturgo Karlos Emanuel, assinante do prefácio do referido livro, descreve muito bem: “Um misto de poeta e evangelizador, padre Marcílio transmite por meio de sua obra muita paz interior e nos faz refletir sobre a vida, a maneira como vivemos e como tratamos o próximo”.

A inspiração poética do evangelizador aflorou aos 12 anos de idade, quando ele ensaiou seus primeiros passos literários. Ele conta que escrevia, botava numa caixinha, e depois via que “aquilo era uma ilusão”. Até os 17 anos ele transitou nesse dilema e, aos 20, começou a escrever efetivamente. Mas não tinha pretensão de publicar nada. 

Até o dia em que uma freira pediu-lhe umas fotos para compor uma arte, e ele levou seu pendrive onde as imagens estavam armazenadas. Entre os arquivos guardados no dispositivo estava um livro que ele havia escrito. A irmã deu uma olhada, perguntou se podia ler, e gostou do que leu.

A freira, jornalista atuante na área da Comunicação, disse, de imediato: “vamos publicar”. Padre Marcílio declarou que não tinha pretensão, mas ela se propôs a organizar o material, e assim, foi publicado o livro “Entre Flores e Espinho”, a primeira obra do poeta e evangelizador padre Marcilio Jerônimo.

“Foi um livro maravilhoso, teve um sucesso danado. E a partir daí, eu fui escrevendo, porque eu já tinha muita coisa guardada. E a minha inspiração sempre foi pelo lado social, pela vida, e principalmente pela vida marginalizada, pela vida sofrida. Porque também era a minha realidade”, ressalta o sacerdote.

Sessão de autógrafos: padre Marcilio lança o livro “Mantenha Sempre a Esperança”, sua sexta obra

Junto aos fiéis

A mensagem que ele deixa para nossos paroquianos é: vamos manter a esperança. Vamos vivenciar a nossa fé, ser fraternos e olhar o outro como irmão. Ele reforça que está aqui muito feliz, com muita alegria e cheio de disposição para caminhar junto aos fiéis e manter uma igreja que possa atender os anseios de Deus e os anseios das pessoas.

 

2 Comentários

  • Kyko Barros
    Posted 6 de maio de 2023 11:54 0Likes

    Obrigado, padre Marcílio, pela excelente entrevista! Grande abraço.

  • Eugenia Magalhães
    Posted 11 de novembro de 2024 11:42 0Likes

    Muito contente.
    Eu louvo a Deus pelo seu SIM…
    DEUS te abençoe, padre MARCILIO .

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