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Muitos cavaleiros e viajantes cruzavam as terras de Cascavel em direção aos mais distintos lugares de nossa região. Alguns desses homens estavam por conta própria ou vinham a serviço de seus patrões que lhes ordenavam realizar grandes viagens dos mais longínquos cantos para fazerem entregas ou compras de mercadorias.

Conta-se que, certa vez, u grupo de viajantes a cavalo passava pela primeira vez por essas terras. Esses homens, muito cansados e irritados com o sol forte do meio-dia, resolveram parar e descansar um pouco à beira de um rio que corria ligeiro indiferente a tudo. Um dos viajantes, aproveitando para dar de beber à sua montaria que também estava exausta, se dirigiu até à margem do corrente.

Foi então que, chegando à beira do rio, se surpreendeu com a quantidade de caranguejos que ali viviam. Com cuidado, pegou alguns dos bichos, pôs em um saco feito de palha e os levou até onde estavam arranchados. Chegando lá, mostrou aos seus companheiros a descoberta e logo retornaram ao rio para buscar água, pois iriam fazer um cozido com esses caranguejos. Nenhum daqueles homens conhecia caranguejo, muito menos seu preparo, mas famintos como estavam, iriam almoçá-los.

Não tardou e o fogo estava pronto. Era já para pouco mais de meio-dia e os caranguejos foram postos a cozinhar. Aproveitando o período de cozimento, resolveram tirar um cochilo para esquecer um pouco da fome que os deixava meio tontos. Pouco depois um dos homens resolveu verificar a comida e, ao mexer a panela, percebeu que os caranguejos continuavam tão duros como antes. Colocou então alguns pedaços a mais de madeira para aumentar o fogo e voltou a dormir.

O sol há muito já estava a pino, todos já estavam acordados e famintos ao redor da panela em que se sentia o arder do fogo a metros de distância. Um novo teste foi feito e os caranguejos continuavam duros como se tivessem sido postos para cozinharem naquele instante. Alguns minutos depois, um dos homens que nunca se sentira tão impaciente tornou a cutucar a comida e nada desses caranguejos cozinharem. Pôs mais lenha no fogo e uma grande fogueira recobriu a panela sobre o fogão arranjado de pedras.

E não é que o sol já quebrava no horizonte, deitando seu vermelho no céu, e todos ainda estavam ali esperando os tais caranguejos cozinharem. E já não sabiam mais o que fazer, haviam perdido a tarde toda de viagem e a noite já apontava com o cair do sol; faltava muito ainda a se viajar. Todos muito enraivecidos pela demora e pela fome resolveram fazer o último teste. Um dos homens com um graveto tentou enfiá-lo em uma pata de um dos caranguejos, o graveto deslizou pelo casco duro e foi parar no fundo da panela. E isso foi a gota d’água! O homem, sem medo de se queimar, chutou a panela com caranguejo e tudo para dentro do rio e disse:

– Fica-te aí, malcozinhado.

Daquele dia em diante aquele rio passou a ser chamado de Rio Malcozinhado.

As lavadeiras que para esse rio levavam suas trouxas de roupas contavam muito essa história quando à noite, um cachorro latia triste para a lua e o povo se reunia em frente de casa à luz de velhos lampiões.

[Airton Dias de Sousa. O Rio Malcozinhado. In: A Serra da Mataquiri, o Rio Malcozinhado e Outras Histórias. 2. ed. Fortaleza: Premius, 2018, p. 45-47. Ilustração: Wescley Barros Borges – colorização: Hugo Cavalcante]

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