Ora, meu amigo, trago para você uma história contada por minha mãe que escutou de quem viu o que ora conto.
Antigamente não havia estradas como há hoje em nossa cidade, muitos dos caminhos eram corredores, picadas abertas no meio do mato entre cercas que davam passagem ao povo. Pois bem, na estrada da Bananeira, hoje estrada do Guanacés, havia um corredor desses, o corredor do finado Umberto.
Contam ainda hoje os mais antigos que, nesse corredor, costumava aparecer um cortejo fúnebre. Pessoas de branco levando um caixão cortavam veredas em direção à estrada do Guanacés. Quem se encontrava com tal cortejo de imediato não percebia que se tratava de uma assombração, muitos até seguiam o cortejo sem nunca conseguir ver o rosto de ninguém. Até que em certo ponto do caminho, ele desaparecia. Era então que o desavisado acompanhante entendia o que estava acontecendo, e tremia-se todo, faltava-lhe a voz e pesavam-lhe as pernas.
Muitos foram os que viram tal cortejo a passar pelo corredor do finado Umberto. Bem sei que se tu passares por este velho caminho, também acharás de encontra-lo.
[Milson Almeida. O Corredor do Finado Umberto. In: A Serra da Mataquiri, o Rio Malcozinhado e Outras Histórias. 2. ed. Fortaleza: Premius, 2018, p. 27-28. Ilustração: Wescley Barros Borges – colorização: Hugo Cavalcante]