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No ano de 1927, o prefeito Vitoriano Antunes recebeu um comunicado de Lampião avisando que iria a Cascavel para fazer uma visita de cortesia às autoridades locais e esperava ser bem recebido. A notícia espalhou-se logo pela cidade deixando a população em pânico. As famílias ricas, umas se deslocaram logo para Fortaleza, outras ficaram de prontidão aguardando novos contatos, mas, Lampião e seu bando não vieram.

Em junho do mesmo ano, chegava a Cascavel às 5 horas da manhã, a volante da Policia Militar cearense, composta de 60 praças sob o comando do 1º Tenente José Bezerra, que levou como seu auxiliar o 2º Tenente Antônio Pereira.

O coronel Vitoriano Antunes, operoso prefeito de Cascavel, providenciou caminhões para transportes dos soldados que estavam muito cansados, interessando-se, vivamente pela ação benéfica do governo do Estado, administrado pelo Desembargador Moreira da Rocha, na repressão do banditismo. Vitoriano que tinha um caminhão “Federal-Night” novo, que era dirigido por Vicente Barbosa, deixou na garagem. Foi requisitado três caminhões do município, um de Cascavel de Francisco Loureiro dirigido por ele próprio, dois de Baixinha o de André Gondim, dirigido pelo próprio dono e o de Raimundo Pessoa dirigido por Miguel Rodrigues. A volante da Policia Militar, ia para a cidade de Mossoró-RN via Aracati, que estava sob ameaça de Lampião. Nesta época, as policias do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte tinham trânsito livre nas fronteiras, em perseguições aos cangaceiros. A estrada de terra era péssima, sem pontes, praticamente só transitável no verão, atravessando carnaubais, riachos, rios. A travessia do rio Jaguaribe era feita em pontão, além de enfrentar atoleiros terríveis nas várzeas. Nesta época os carros do Rio Grande do Norte, e de Aracati que vinham para Fortaleza, passavam por Cascavel.

Na passagem do rio Pirangi, o caminhão de Francisco Loureiro (um limoeirense que comprou um caminhão velho para tentar a vida em Cascavel) “deu o prego” de carburador e a correnteza levou o capuz do seu caminhão, por isso, foi liberado, seguindo os dois outros de Baixinha. Próximo ao Fortim o caminhão de André Gondim “ficou no prego” de pneu, pois não tinha estepe. Só o caminhão dirigido por Miguel Rodrigues que era novo, seguiu a viagem.

Ao chegar a Aracati a volante cearense foi informada de que Lampião tinha mandado uma embaixada a Mossoró, exigindo do comércio 400 contos de réis se quisesse livrar-se de um assalto. Veja que audácia de Lampião, ameaçar Mossoró, o maior centro comercial do Estado do Rio Grande do Norte.

Sem resposta, o bando de Lampião invadiu Mossoró sendo recebido à bala pela polícia rio-grandense aliada à população da cidade que há dias estava preparada com munições. Lampião que estava na retaguarda não entrou na cidade. Foi um fracasso para o bando com dois cabras da peste mortos e vários feridos. Após a derrota, o bando sobressaltado fugiu para Limoeiro-CE (hoje Limoeiro do Norte). Toda a zona do Jaguaribe, principalmente Aracati, estava em polvorosa, receando a ação dos bandoleiros que para ali se dirigiam.

A volante cearense mudou de rumo. No caminhão juntou-se com outra volante do Rio Grande do Norte chegando em Russas, cidade vizinha a Limoeiro, às 20 horas. Ali as volantes souberam que Lampião fora recebido pacificamente pelo povo de Limoeiro e era hóspede do Hotel Lucas ao lado da igreja Matriz e que as autoridades de Limoeiro ofereceram um banquete em sua homenagem e na hora do mesmo, Lampião fez o vigário padre Vital e outras autoridades experimentarem a comida, provando não estar envenenada.

O telegrafista de Russas tinha avisado para Limoeiro que haviam chegado dois contingentes policiais que se dirigiam para Limoeiro. A notícia chegou aos ouvidos de Lampião que pretendia ficar mais tempo na cidade. Eles traziam reféns da chapada do Apodi. Saíram na mesma noite. Ao meio dia as volantes chegaram a Limoeiro e não encontraram mais o bando de Lampião. As volantes desceram o Jaguaribe seguindo para Tabuleiro de Areia (hoje Tabuleiro do Norte), Alto Santo, Pereiro, no Ceará, e não encontraram o bando de Lampião. Aonde chegavam, a noticia era de que eles tinham passado. Era crença geral que Lampião tinha voltado para o lugar “Saco” uma região praticamente deserta, a dois quilômetros de Mossoró onde o bando se escondia. As volantes passaram para o lado do Rio Grande do Norte, indo de São Miguel, Pau dos Ferros, até Apodi e nem notícias de que o Lampião e bando se encontravam na “Lagoa Serra Vermelha” ou em sua vizinhança, município de Iracema, entre aquela vila, Pereiro, Alto Santo, Jaguaribe e Santa Rosa. Convém notar que todos esses lugares já haviam sido visitados pelas forças do Rio Grande do Norte e Ceará que cuidadosamente tinham procurado descobrir o paradeiro dos bandidos. Outras notícias diziam estar no lugar Rodapé, Serra da Micaela, proximidade de Serra Vermelha um lugar sinistro cercado de esconderijos, onde felizmente havia água. Para o cerco as volantes do Ceará e Rio Grande do Norte resolveram abandonar a estrada e internar-se na mata para pegar Lampião na tocaia. O tenente Bezerra liberou o caminhão dirigido por Miguel Rodrigues, que cansado dirige-se a Cascavel. O sol estava a pino, nenhuma aragem agitava as folhas, o calor sufocava, quando de repente avistou um casebre. Com fome e sede parou o caminhão e pediu um pouco d’água para saciar a sede. Em dado momento chama-lhe a atenção um grupo de homens a pé, armados. Pensou logo tratar-se do bando de Lampião. Ao chegarem perto Miguel percebeu que se tratava da volante da Paraíba chefiada pelo Sargento Quelé que em voz alta ordena-o a levá-los a Cajazeiras, na Paraíba, onde foi liberado.

As notícias que chegavam a Cascavel eram desanimadoras. Diziam que Miguel tinha sido sacrificado numa emboscada pelo bando de Lampião. Sua futura noiva Senhorita Tereza Bezerra de Sena, sem notícias, com os boatos, sofria, mas nunca perdeu as esperanças.

Já fazia quase um mês quando Miguel chegou a Cascavel. Era um domingo. Às 17 horas entrou na cidade pelo Rio Novo, buzinando. Tereza, que estava no jardim conheceu a buzina do caminhão indo para o portão. Ele acenou e passou direto para Baixinha a fim de se comunicar com o patrão Raimundo Pessoa, trocar de roupas, pois estava com as vestes sujas, barbado e faminto. Na mesma noite voltou a Cascavel e foi recebido como um herói pelos amigos.

Na residência da família Abdon Galdino, foi comemorada a sua volta, todos querendo saber da grande aventura.

[Cascavel Retalhos de sua História]

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