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A pequena vila de Balbino, localizada a 18 quilômetros da sede do município de Cascavel, era inicialmente recanto de tribos indígenas até começarem a chegar negros fugindo da escravidão. A miscigenação entre as raças é visível ainda hoje entre seus descendentes.

Em 1986 houve fortes conflitos entre moradores e o ramo imobiliário, o que levou à fundação da Associação dos Moradores do Povoado de Balbino. A área foi transformada cm APA – Área de Proteção Ambiental, o que garantiu a preservação da mata nativa e da cultura dos povos locais em seus 245 hectares e 3 mil metros de praia.

Certo dia chegaram alguns tratores; depois, casas e a igrejinha foram incendiadas. Homens diziam que as terras pertenciam a uma imobiliária. A comunidade da vila surpreendeu-se. E Dona Francisca, líder comunitária, não se conformou – foi à TV, que filmou toda a tragédia. Os pescadores reconquistaram seu paraíso e provaram que os papéis da imobiliária eram falsos.

Com base nesses fatos a jornalista, apresentadora e escritora Paula Saldanha publicou o livro Balbino em Chamas (São Paulo: FTD, 1999 – Coleção heróis de todo o Brasil). Com 48 páginas e ilustrações de Regina Yolanda, a obra mostra como o abuso do poder e a ganância dos homens transformam uma vida alegre e farta em desespero e destruição.

O começo da história
Logo na introdução, um texto comovente: “Contei até cem e depois sai do buraco da areia. O fogo já tinha comido toda a capela, não adiantava fazer mais nada. Na beira da praia, um monte de madeira queimada, que nem esqueleto preto. Foi isso que sobrou da igrejinha construída pelos pescadores. A vida aqui no Balbino sempre fui dura, mas nunca teve ninguém passando fome. As pessoas vivem tranquilas. Não dão trabalho pra ninguém. Depois que as imobiliárias começaram a invadir os terrenos, muitas famílias das praias vizinhas acabaram fugindo pra cidade grande, dormindo debaixo de viaduto, sem ter nada pra comer. Esta história começou assim”.

Essa fala é do jovem João, que Paula Saldanha incorpora na narrativa da história. O adolescente sonhava com Marina e com a felicidade que era viver em Balbino. Sonho que vira pesadelo com os eventos que sucedem as tentativas de invasão do seu paraíso.

Invasões
Balbino em Chamas narra duas invasões marcadas por coação, incêndios e tiros de “efeito moral”. Na primeira invasão os pistoleiros começaram a rodear as casas de manhã cedinho. Viraram móveis e tiraram as pessoas da cama, ameaçando com espingardas e revólveres. Avisaram que todo mundo ia sair dos terrenos por bem ou por mal. E, para deixar o recado bem claro, derramaram gasolina e botaram fogo em quatro casas, com tudo dos pescadores dentro. E ainda disseram que era só “uma pequena mostra”.

A segunda invasão foi protagonizada pela polícia com status de “mandado de desocupação”. Um papel da justiça -como descreve o narrador- dizia preto no branco que os terrenos pertenciam a uma imobiliária e que os moradores iam ter que sair. As mulheres enfrentaram a situação com coragem, fechando a passagem dos policiais. Mas a resistência foi intimidade com cutucões de cano de espingarda e tiros de revólver para o alto.

E, assim como fizeram os pistoleiros, os homens da lei jogaram gasolina nas casas e botaram fogo. E o povo do Balbino já não entendia: pistoleiro e polícia fizeram tudo igualzinho?…

Livro premiado
Paula Saldanha tornou-se referência da documentação e conscientização sobre as riquezas naturais, étnicas e culturais do Brasil, o que lhe rendeu prêmios e homenagens no país e no exterior. Balbino em Chamas foi agradado com o Prémio Adolfo Alzen – Melhor Reportagem, da União Brasileira de Escritores.

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