Por Felipe de Souza*
“Verde que eu te quero verde, vida que eu te quero vida”. Foi mergulhado nesse espírito de preservação ambiental e fortalecido pela importância da abordagem dessa temática de proteção à natureza que a diretoria da agremiação Escola de Samba Bagaceira resolveu trazer à reflexão esse tema já abordado e refletido no desfile de 1990.
Numa abordagem totalmente repaginada, a Bagaceira, em 2024, numa releitura do samba Quando o verde vai à luta, enredo que consagrou a escola de samba bicampeã do carnaval de Cascavel naquele ano, trouxe à luz da reflexão esse que é, nos dias atuais, um dos mais sérios problemas a serem resolvidos pela humanidade, uma vez que é o homem a causa e a solução do problema, sendo ele o único animal que destrói o seu próprio habitat.
Preservar é preciso. Quando o verde vai à luta é um grito de socorro da mãe natureza. “Veja toda essa beleza”, representada nas alegorias dos carros que traziam a fauna e a flora. A arara azul, ave em extinção, as espécies marítimas caracterizadas pela baleia mergulhada num mar de lixo consciente e desumanamente poluído pelas mãos humanas. “Veja toda essa beleza”, o encontro do rio com o mar, fenômeno essencial para manter o equilíbrio das águas, aqui representada na nossa escola pelas figuras do mestre-sala e da porta-bandeira.
Ao longo de todo o desfile destacava-se a presença da riqueza da biodiversidade: o tucano, a jandaia, a arara azul, a onça do pantanal, bem como a imensidão de nossas florestas representadas na escola pelo carro abre-alas. Com um desfile magnífico e estonteante, a Escola de Samba Bagaceira encerrou sua participação no carnaval de rua de Cascavel no ano de 2024, passando pelo Corredor da Folia, sendo aplaudida por todos que ali se faziam presentes. Um espaço que, este ano, foi a grande novidade apresentada pelo poder público municipal. Apesar de trazer um certo incômodo para o nascedouro da Bagaceira, uma vez que causou a insatisfação de algumas pessoas, sobretudo as mais idosas, que ali residem nas proximidades da Praça Nossa Senhora do Ó, o Corredor da Folia reuniu num só lugar uma imensa quantidade de foliões, cascavelenses e visitantes, que puderam de maneira cômoda, uma vez que arquibancadas ali foram montadas, apreciar o desfile sem a dúvida do percurso nem do lugar por a escola e os blocos iriam passar.
Assim, a novidade do Corredor trouxe vantagens para uns, que elogiaram a organização e o inédito fato,e prejuízo para outros que não puderam ver o desfile, como foi o caso, por exemplo, das pessoas mais idosas que nasceram e moram na comunidade Nossa Senhora do Ó, levando em conta que a concentração e a saída da Escola de Samba Bagaceira ali acontecem.
Felipe de Souza, um dos fundadores da Bagaceira, presidiu a agremiação no biênio 1989-1990. Professor de língua portuguesa e escritor, autor do livro Escola de Samba Bagaceira – um desfile pela avenida da memória.