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A Igreja Matriz tem passado por sérias reformas, executadas por vigários da freguesia de Nossa Senhora da Conceição, com a ajuda da comunidade. O padre Francisco Valdivino Nogueira (1866-1921) entronizou a imagem do Sagrado Coração de Jesus, após ladrilhar a frente de seu altar, em 1904, e, em 1915, por Júlio Azevedo, mandou pintar o forro de madeira do altar-mor, com a imagem da padroeira rodeada por anjos, aos quais o pintor deu, segundo os comentários, as feições das moças bonitas da cidade.

Nesta tarefa foi auxiliado pelo Padre Luiz Guimarães, do clero do Maranhão, que viera tentar curar-se do alcoolismo, em Cascavel. Infelizmente, o cupim, as goteiras e a “modernidade” não preservaram para a posteridade tão rica obra de arte e, na década de sessenta, deste século, aquele forro virou lixo!

O cruzeiro da Matriz, construído por volta de 1915, pelo padre Valdivino, era similar ao de Aracati, mas, aos poucos, foi perdendo suas características, até sua total destruição, em 1960, ficando, o galo e a cruz de madeira, por muitos anos, no depósito do salão paroquial.

O padre Luiz Gonzaga reconstruiu-o para as festas do Sesquicentenário da Paróquia (4 de setembro de 1982) e, em seu interior, guardou documentos relativos à História de Cascavel, planejando também a recuperação do altar-mor, mas não chegando a fazê-lo por ter sido transferido.

O salão paroquial, edificação do padre José Teógenes Gondim, entre 1937 e 1939, foi o centro de grandes acontecimentos sociais. Nele, eram realizadas solenidades, encenadas peças teatrais, empossados prefeitos e feitas apurações eleitorais. Foi arrendado ao Banco do Brasil pelo padre José Colaço e, em seguida, entrou em decadência, sendo, em novembro de 1992, demolido pelo padre Francisco Rodrigues de Sousa.

Nos anos 1940, quando o padre Antônio de Oliveira Nepomuceno (1906-1994) chegou a Cascavel, reformou totalmente o piso da Matriz que, de madeira e em péssimas condições, foi substituído por mosaico. O da sacristia foi doado pelo comerciante João Mires e pelo prefeito Juarez de Queiroz, sendo, o restante, adquirido através de doações de todos os paroquianos.

Sob o antigo piso foram encontradas velhas contas de terços, moedas de níquel e latão (entravam pelas frestas) e algumas ossadas de recém-nascidos, dentro de seus caixões, que foram trasladadas para as proximidades da Cruz das Almas, no cemitério público.

Três barricas de moedas foram recolhidas e doadas à Cúria de Fortaleza. Estando rachados os dois sinos da Matriz, o padre Antônio mandou retirá-los do campanário e fundir em um só, por Raimundo Azevedo, sendo aproveitado na capela de São Francisco, no Bairro do Rio Novo.

Adolfo Gentil, candidato a deputado federal, doou um sino novo para a Matriz, pesando oitocentos quilos, fabricado em São Paulo, conseguido através de seu cabo eleitoral, Renato de Sabóia Castro, em 1958. Já o menor foi fabricado em Juazeiro do Norte e comprado pelos paroquianos por trinta e cinco cruzeiros.

O padre Antônio adquiriu, no Rio de Janeiro, as imagens francesas do Senhor Morto e do Bom Jesus dos Passos, trazidas de navio para Fortaleza e, para Cascavel, transportadas pelo caminhão de Francisco Alves das Chagas, mais conhecido por “Chiquinho Bola Preta”, vindo benzê-las Dom Raimundo de Castro e Silva.

O padre Antônio abriu os arcos da sacristia, sob as torres, para colocação, no lado sul (torre do relógio), do corpo do Senhor Morto e, no lado norte, do Senhor Bom Jesus dos Passos.

Na época, a Semana Santa constituía importante evento religioso, ocasião em que, colocado em um andor, o corpo do Senhor era conduzido pelas autoridades masculinas, enquanto o de Nossa Senhora das Dores era levado pelas senhoras.

Saíam do Patronato por caminhos diferentes e se encontravam na Igreja Matriz, onde se iniciavam os demais atos, inclusive a cerimônia do lava-pés, encenada por alunos do Patronato Juvenal de Carvalho e do Grupo Escolar.

Também foi iniciativa do padre Antônio um excelente coral criado para acompanhamento das santas missas e que, formado por pessoas da sociedade cascavelense, chegou a cantar uma missa, em latim, na Catedral de Fortaleza, a convite de Dom Antônio de Almeida Lustosa.

Compunham-no: Pedro Ciríaco, Francisco Bento, Odilo Moura, Belchior Alves, Carmélia Ferreira de Oliveira, Gracy Ferreira de Oliveira, Marilza Cândido, Arminda Vale, Maria dos Santos, Maria de Fátima Ferreira de Oliveira, Antônio Uchoa, Ana Marcelo Antunes, Beatriz Almeida Franco, José Outono Alves Teixeira, Maria do Carmo Moura, Francisco Ferreira Evangelista, Teotônio Ferreira de Oliveira e mais algumas pessoas.

Em 1967, o padre José Hélio Paiva, vigário da paróquia de Aquiraz, recuperou, e hoje fazem parte do Museu Sacro daquela cidade, valiosas peças que haviam sido retiradas da nossa Igreja Matriz, como uma pia batismal do século XVIII, e deixadas em completo abandono no depósito do salão paroquial de Cascavel, pelo vigário da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, padre Antônio de Oliveira Nepomuceno.

Inaceitável “Modernização”

Em 1974, o padre José Colaço Martins, após assentimento dos fiéis que participavam de uma missa e a concordância de outros poucos paroquianos, consultados aleatoriamente e sem deixar bem claro o que era pretendido, levou a cabo uma transformação geral naquela majestosa igreja.

Demoliu o altar-mor de Nossa Senhora da Conceição e os altares laterais de São José (este fora construído com a colaboração de todos os “Josés” da cidade) e do Sagrado Coração de Jesus, destruindo uma obra única, no mundo, para erguer altar igual aos existentes nos diversos templos modernos.

A mudança sepultou a memória de duzentos anos do povo católico de Cascavel. Imagens, relíquias, quadros da Via-Sacra, pia batismal, galeria de ex-sacerdotes… Enfim, tudo foi descartado ou vendido para custear a insana reforma.

Quem conheceu a Igreja Matriz, antes da “modernização” de 1974, tem na lembrança que entrar em seu rico interior era como mergulhar em um livro a ser decifrado, tratando das questões religiosas, sociais e políticas da História do povo cascavelense e que, infelizmente, não sobreviveu às ferramentas demolidoras da tradição de várias gerações de católicos.

Os padres Antônio Nepomuceno, Jaime Felício, Geovanni Sabóia e Mauro Fernandes foram, em comissão, a D. José de Medeiros Delgado pedir a interdição da obra, porém, era tarde demais, e o altar-mor já fora profanado pelas picaretas.

[Fonte: Cascavel 326 anos]

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